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Governança Corporativa em conselhos definido, difuso e pulverizado

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Dando continuidade às publicações da sobre Governança Corporativa, este artigo tem o objetivo de falar sobre os diferentes tipos de conselhos de administração em empresas: o conselho definido, o conselho difuso e o conselho pulverizado.

Os agentes da governança

Primeiro, vamos lembrar que a governança corporativa, a partir da teoria de agência, apresenta três elementos principais em sua estrutura:

A figura 1 abaixo mostra a relação entre o conjunto de acionistas, o conselho de administração e a diretoria da empresa.

O conjunto de sócios da empresa, como mostra a figura 1, é o agente principal da governança corporativa. É quem delega poderes à diretoria executiva e investe recursos na empresa. O agente principal, ao criar uma estrutura de governança corporativa, estabelece um conselho de administração, que passa a representar os interesses dos sócios na empresa.

A diretoria executiva é nomeada pelo conselho de administração e é quem recebe a delegação de poderes – e os recursos necessários – para agir na empresa. Accountability é o nome que se dá para a prestação de contas e a respectiva responsabilização perante estas contas apresentadas, que esta diretoria deve encaminhar regularmente ao conselho de administração e à assembleia de acionistas.

Os tipos de conselho de administração

O conselho de administração (board of directors em inglês) é formado por um presidente e por diretores conselheiros, os quais são eleitos e nomeados pelos sócios.

Cada ação, com direito a voto, vale um voto na eleição dos membros do conselho. Assim, o sócio ou grupo de sócios que possuir 50% das ações mais uma ação (a chamada ‘gold share’, a ‘ação de ouro’ em inglês) tem maioria dos votos para nomear o presidente e a maioria dos conselheiros do conselho de administração.

Considerando o número de ações com direito a voto, o conselho de administração pode ser classificado de acordo com o tipo de controle acionário em:

A governança corporativa varia conforme a cultura organizacional e o estilo de gestão de cada empresa. Todavia, é importante analisar os diferentes tipos de conselho para se entender qual o melhor caminho para se desenvolver o relacionamento de longo prazo com cada um dos atores envolvidos.

Os três tipos de governança corporativa tendem a influir nos relacionamentos entre a empresa e os diversos atores que atuam em seu mercado e que têm interesses nos negócios da empresa. Estes atores incluem os agentes da governança, seus representantes e demais stakeholders, como funcionários, clientes, fornecedores, parceiros comerciais, governos, imprensa, entre outros.

O quadro 1, a seguir, mostra um resumo dos três tipos de conselho de administração e suas principais características de governança e de seu processo decisório:

Tipo de conselhoControle acionárioGovernança corporativa e seu processo decisório
Conselho definidoPresença de um sócio principal.Um sócio (ou grupo de sócios em bloco) com participação superior a 50% das ações com direito a voto.Tendência para governança hierarquizada (sócio → conselho →diretoria) e para um processo decisório centralizado.
Conselho difusoVários sócios, mas sem sócio principal.Cada sócio com participação inferior a 50% das ações com direito a voto.Tendência para governança e processo decisório negociados entre os principais sócios.
Conselho pulverizadoMuito sócios.Cada sócio com participação inferior a 10% das ações com direito a voto.Tendência para a relação de parcerias entre grupos de sócios, com convergência de grupos de interesses.

Governança corporativa e seu processo decisório

No conselho definido, há uma tendência para uma governança hierarquizada entre sócio principal, conselho e diretoria e para um processo decisório centralizado pelo sócio principal. O sócio principal, com a maioria das ações com direito a voto, pode, desde que não haja acordo em contrário, agir de acordo com seus interesses. Pode nomear a presidência do conselho e a presidência da empresa. Pode também centralizar em si o processo decisório das decisões do conselho.

Esta relação pode, eventualmente, implicar conflitos de interesses entre sócio principal e sócios minoritários e entre a direção da empresa e parte minoritária dos sócios. Assim, salvaguardas para os interesses de sócios minoritários existem na legislação, regulamentação e boas práticas de governança corporativa e são, muitas vezes, reforçadas nos acordos entre sócios (no SHA, shareholders’ agreement).

Vale ressaltar, porém, que o sócio principal, controlador, tem, em muitas empresas, o mérito do desenvolvimento dos negócios e a atratividade que estes negócios geraram para o investimento de novos sócios. Outro ponto importante é que este sócio principal, embora potencialmente centralizador, no contexto de uma governança corporativa estruturada, via de regra, respeita os interesses dos sócios minoritários e dá muita importância a seus investimentos.

No conselho difuso, por outro lado, há uma tendência para uma governança e processo decisório negociados entre os principais sócios. Os sócios tendem a discutir e a negociar os rumos da empresa a partir de diferentes perspectivas e com base em diferentes interesses. Neste caso, sem a figura de um sócio principal, as posições de presidente e de membros do conselho de administração, assim como da diretoria executiva, tendem a resultar do consenso entre os sócios com maior participação acionária.

No conselho pulverizado, quando o controle da empresa está distribuído entre vários sócios, cujo investimento, muitas vezes, não supera 10% do total de ações com direito a voto, há uma tendência para relações de parcerias entre sócios com convergência de interesses. Neste caso, o processo decisório passa pela organização destes sócios entre si e sua representatividade em conjunto. Por exemplo, quatro, cinco ou seis sócios, cada um com uma pequena participação acionária, podem combinar esforços para, em conjunto, terem uma participação significativa o suficiente para nomear um representante comum no conselho.

Diplomacia corporativa aplicada à governança corporativa

Os três tipos de governança corporativa, como dito anteriormente, tendem a influir nos relacionamentos entre a empresa e os diversos atores que atuam em seu mercado e que têm interesses nos negócios da empresa (agentes da governança e demais stakeholders). Assim, quando se verifica a governança corporativa e o processo decisório nos diferentes tipos de conselho, evidencia-se a diplomacia corporativa entre os agentes:

Em todos os casos, é importante um plano de ação de diplomacia corporativa para o relacionamento com os atores envolvidos, principalmente os agentes.

As principais etapas da diplomacia corporativa aplicada à governança corporativa são:

Concluindo, fica a mensagem que, para ser um bom profissional de governança corporativa, é muito importante saber identificar o tipo de conselho de administração da empresa com a qual se trabalha – se definido, difuso ou pulverizado. Assim como se deve identificar e analisar cada um de seus agentes para se desenvolver um plano de ação em um programa de gestão de relacionamento.

Conheça mais sobre o tema:

  1. Visão geral de Governança Corporativa
  2. Governança Corporativa e seus benefícios
  3. Governança Corporativa nos Estados Unidos da América
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