10 problemas de empresas familiares escondidos embaixo do seu nariz!

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Segundo dados do IBGE e do Sebrae[i] as empresas familiares totalizam 90% das empresas no Brasil, representam cerca de 65% do PIB – Produto Interno Bruto e empregam 75% da força de trabalho.

As empresas familiares, independentemente de seu tamanho, geralmente, se constituem a partir do sonho do fundador. Este fundador, pai de família, normalmente portador de algum talento (conhecimento sobre máquinas, conhecimento aprofundado sobre cultivo ou produção) dos mais variados setores, iniciava os trabalhos de maneira intuitiva e informal, passando em seguida a constituir uma empresa.

Aos poucos, acaba incluindo outros membros da família, como irmãos, filhos, sobrinhos, todos os envolvidos nessa relação empresarial informal vão constituindo suas famílias, ao passo que a empresa cresce.

Através dessa gênese, as empresas familiares possuem características que podem fazê-las ter um crescimento rápido, como unidade, lealdade, dedicação dos gestores de topo, pois existem muitos interesses comuns entre os envolvidos, dessa forma listamos cinco das principais vantagens em se ter uma empresa familiar:

1.       Maior dedicação e envolvimento pessoal bem como a disponibilidade de investir capital próprio – quando é necessário que se trabalhe duro, por longos períodos, os familiares não medem esforços. Caso seja necessário, a maioria dos envolvidos abrem mão de bens pessoais para investir na empresa, seja para garantia em eventual financiamento, ou mesmo a venda de bens próprios para a injeção de capital na empresa;

2.       Agilidade na tomada de decisões – tendo em vista a confiança existente, muitas vezes, graças às relações familiares (confiança no pai, no irmão, etc) quando é necessário tomar uma decisão, outros membros envolvidos tendem a não questionar, economizando tempo para se chegar à uma solução ou conclusão;

3.       Força da imagem do fundador – o fundador da empresa familiar geralmente possui uma imagem forte e conhecida, sendo autoridade não só em sua família, mas perante terceiros, como bancos, investidores, fornecedores e outros. Essa boa imagem encurta muitos caminhos, transmitindo confiança quando mencionada a pessoa do fundador. 

Ex.: – Sou filho do fulano 

– Aaah, eu conheço seu pai! Vem aqui, vamos conversar!

4.       As crenças ou valores da empresa identificam-se com as da família – isso se dá pois a empresa é, na verdade, um reflexo da família e carrega consigo essa imagem e responsabilidade, o que também proporciona fortalecimento da imagem da empresa.

5.       Visão de longo prazo – uma das consequências mais positivas dessa capacidade de planejar e investir a longo prazo é o chamado “capital paciente” (isto é, com “paciência” para obter retorno), que não se mantém apenas em resultados mensais ou anuais, mas sim promove estabilidade e visão de longo prazo, possibilitando enfrentar com maior serenidade as turbulências circunstanciais[ii]

Apesar de todas essas vantagens, na medida que o tempo vai passando e as relações familiares e empresariais vão se tornando mais complexas, é comum o surgimento de problemas de várias ordens, sobretudo quando não há um planejamento capaz de prevenir estes conflitos.

A crença majoritária é que somente deverão investir em profissionalização da gestão, quando a empresa for grande, tiver muitos funcionários, um faturamento alto, o que consiste em grande em prejudicial engano.

Essa situação, sobretudo para pequenas empresas, se converte na figura de um proprietário centralizador de atividades, atolado de afazeres, único detentor de informações, sem o qual a empresa é incapaz de realizar tarefas básicas. Ele é incapaz de gozar de férias, laborar em horário saudável, já que permanece fiscalizando todas as mínimas tarefas necessárias para o andamento regular das coisas.

O resultado dessa atitude centralizadora – obviamente, explicável pelo contexto de funcionamento da empresa – é um cenário empresarial sem planejamento estratégico, sem domínio real do destino da empresa e, com certeza, sem futuro, já que se trabalha incessantemente sem um objetivo traçado.

Uma pesquisa realizada pela PricewaterhouseCoopers Brasil em parceria com o  IBGC[iii] demonstrou que as empresas familiares têm tendência a profissionalizar sua gestão e, portanto, começar a lidar de forma eficaz com os problemas através da governança corporativa, na medida em que a empresa é passada aos sucessores/herdeiros.

Ocorre que, o melhor momento para iniciar a profissionalização da gestão é por ocasião da abertura da empresa. É claro que, se empresa já está em funcionamento, o momento de profissionalizá-la é AGORA! Isso fará com ela se mantenha lucrativa e competitiva, que seja capaz de ultrapassar as adversidades, lidar bem com as inovações comerciais e tecnológicas.

 A fim de exemplificar como os instrumentos de Governança Corporativa e Familiar podem auxiliar as empresas, listamos abaixo alguns benefícios trazidos por elas:

  1. Aprimorar o modelo de gestão da empresa;
  2. Contribuir para a longevidade;
  3. Facilitar o processo sucessório (ocasião em que os filhos vão assumindo posições estratégicas na empresa);
  4. Administrar conflitos familiares;
  5. Fortalecer o propósito da empresa;
  6. Facilitar o acesso à recursos financeiros;
  7. Facilitar a reestruturação da empresa após o falecimento de algum dos sócios.

Diante de tais benefícios, caso a empresa não tenha ainda implementadas as práticas de governança corporativa e familiar, você empresário ou profissional de gestão pode estar a ponto de se deparar com um pesadelo.

Os problemas decorrentes da falta de governança corporativa e familiar são muitas vezes, fatais!

Diante disso, seguem abaixo, 10 problemas escondidos embaixo do seu nariz, que tem o condão de destruir qualquer empresa:

  1. Falta de perspectiva de perenidade e risco de extinção por conflitos familiares – se há membros familiares na empresa e não há regulamentação de como eles devem entrar e sair, receber, se profissionalizar, entre outras coisas, saiba que o risco de extinção dessa empresa, abruptamente, é muito alto.
  2. Falta de identidade delimitada – a pesquisa da PwC, já mencionada, informa que as empresas que possuem missão, visão e valores bem delimitados, tem tendência muito mais que a média, a ter um planejamento estratégico, de longo prazo e, entre outras coisas, são empresas que cresceram nos últimos dois anos e têm perspectiva de crescimento para os próximos dois anos;
  3. Ausência de firmeza da imagem – tanto externa, quanto interna, já que sequer os funcionários “vestem a camisa” ou têm confiança nos objetivos da empresa;
  4. Ausência de processos e procedimentos formalizados na empresa – todas as coisas a serem realizadas na empresa precisam estar previamente estabelecidas e esclarecidas, desde a forma de organização dos produtos no depósito, até o mecanismo de tomada de decisão do Conselho de Administração.
  5. Inexistência de código de conduta – que serve para prever e prevenir condutas irregulares, proporcionando tratamento isonômico entre funcionários, bem como garantindo a imparcialidade do gestor.
  6. Hierarquia relativa diante das relações familiares – Você não manda em mim, eu tenho os mesmo direitos que você! – frase comum de se ouvir em sociedades entre irmãos… Problema na certa!
  7. Ausência de acordo de família – será o que o genro, recém chegado à família, pode trabalhar na empresa? – é esse acordo que vai determinar essa e outras questões ensejadoras de conflitos. 
  8. Insurgência de terceiro sócio – não pertencente à família – em razão da empresa trabalhar “pela” família;
  9. A suscetibilidade à problemas não empresariais, como falecimentos, divórcios, etc
  10. Ausência de treinamento de membros da família – sem treinamento adequado, obrigatoriedade de que estudem, adquiriam experiência para, então, poderem trabalhar na empresa da família, ela acaba padecendo por inexperiência e profissionais mal qualificados que, pior, trabalham nos mais altos cargos por serem filhos, netos do dono.

É fundamental ficar atento a todos os problemas que a ausência de medidas e práticas de governança corporativa e familiar podem te trazer! Sempre é tempo de melhorar, de profissionalizar, planejar a gestão e alcançar o sucesso!

Nas próximas postagens, iremos aos poucos pormenorizando cada um dos institutos aqui mencionados, por isso continue por aqui!


[i] SEBRAE. Pesquisa Empresas familiares. 2017. disponível em: https://m.sebrae.com.br/sites/PortalSebrae/estudos_pesquisas/outros-estudosdestaque18,c61af925817b3410VgnVCM2000003c74010aRCRD;

[ii] PricewaterhouseCoopers Brasil. A conexão que faltava: A importância do planejamento estratégico para o sucesso da empresa familiar. São Paulo, SP : PwC, 2016. 34p. disponível em : https://www.pwc.com.br/pt/setores-de-atividade/empresas-familiares/2017/tl_pgef_17.pdf. p. 21 

[iii] PricewaterhouseCoopers Brasil. A conexão que faltava: A importância do planejamento estratégico para o sucesso da empresa familiar. São Paulo, SP : PwC, 2016. 34p. disponível em : https://www.pwc.com.br/pt/setores-de-atividade/empresas-familiares/2017/tl_pgef_17.pdf; 

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Karen Sturmer
Advogada, Mestre em Ciências Jurídicas pela Ambra University. E-mail: [email protected]