Transformação em tempos complexos

transformação em tempos complexos
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“Venho fazer um convite a vocês: aproveitar a oportunidade e explorar a possibilidade de crescer com as mudanças, aprender o novo, florescer e transformar a si mesmos e suas relações.”

Estamos vivenciando uma mudança de era, novos paradigmas diante da intensa conectividade e interdependência global. A velocidade das mudanças está exponencial diante da escalada da tecnologia e inteligência artificial e da conectividade mundial, encurtando distâncias e aproximando culturas.

Essa grande velocidade de interação social aumenta ainda mais as instabilidades sociais, políticas e econômicas, gerando um contexto complexo. É essencial refletir sobre esse contexto e como ele nos impacta, na vida e no futuro do trabalho e das empresas.

A realidade influencia a forma como pensamentos, sentimos e nos comportamos. Muitas vezes, vivenciamos a manipulação da realidade, impactando consideravelmente as relações e as reações da humanidade.

Que tempos são esses? Tempos em que as mudanças se sobrepõem nessa velocidade surpreendente, desafiando nossa necessidade humana de controle e segurança. A insegurança gerada por este contexto é gatilho para muitos outros desgastes (além dos econômicos, sociais e políticos), ocasionando deteriorações emocionais, psíquicas, físicas, relacionais.

Os desafios enfrentados são os mesmos dentro do ambiente corporativo. Empresas são feitas de pessoas e suas relações. Parece óbvio falar isso, mas é preciso reforçar, pois há uma naturalização do automatismo e da super produtividade, como se fôssemos máquinas a gerar contínuos resultados.

A complexidade do cenário vem sendo objeto de estudos, análises de grandes pensadores, sendo descritos através de acrônimos como mundo VUCA e mundo BANI. VUCA é a sigla em inglês para as palavras: volátil, incerto, complexo e ambíguo; enquanto BANI traduz as ideias de fragilidade, ansiedade, não linear e incompreensível.

Até poucos anos atrás, nem estávamos familiarizados com este termo, mundo VUCA, que representa o período histórico pós-guerra fria, descrito de forma a explicar como o que acontecia no mundo impactava a vida das pessoas. Mas, um episódio descortinou um cenário de filme de ficção científica. Em março de 2020, tivemos a declaração oficial de pandemia pela ONU. A partir deste momento, este mundo incerto, complexo, volátil, e ambíguo, invadiu nossas casas e trabalhos, impactando todos globalmente.

Não obstante às inúmeras descrições do cenário atual, o fundamental é aprender a lidar com este quadro descrito, que nos causa no início uma reação de incredulidade e negacionismo. Os efeitos e impactos desses gatilhos de desconforto e incerteza dependem de como cada pessoa, organização, estado, empresa lida com essas adversidades.

Como empresas são feitas de pessoas, são elas as que determinam o sucesso ou insucesso da empresa diante dos desafios. A transformação depende do nosso desenvolvimento como seres humanos.

É preciso pensar fora da caixa, sair dos encaixes de velhos padrões para pensar coletivamente em soluções criativas e inovadoras, a partir das habilidades humanas. É preciso olhar de forma mais ampla para a realidade do que essas explicações lógicas (e ilógicas) do mundo. Racionalizar todos esses aspectos de imprevisibilidade, caos, insegurança, não trará as ações eficazes a transformar essa realidade.

Precisamos ampliar nossa percepção de forma a não apenas racionalizar, para tentar entender esse mundo para além dessas lentes racionais, analíticas e objetivas. Precisamos agregar o conhecimento do sentir, da subjetividade. Pensar e sentir o mundo, para percebê-lo com nossas sensações, sentimentos e como esta complexidade nos afeta. Essa compreensão irá definir como enfrentar esses desafios, desenvolver recursos pessoais (competências e habilidades) para tomar decisões assertivas, quais aprendizados colher, errando e acertando, evoluindo.

Vocês podem estar pensando: “Ah Betina, vamos sofrer diante de tudo isso. Se pararmos para sentir, o mar revolto das emoções vai invadir nossa mente. Vamos ficar mais ansiosos e nos sentiremos impotentes. Não dá para parar pra sentir. Temos que calar as emoções e seguir em frente. Emoção é fraqueza.”

Esses são padrões antigos de pensar e racionalizar a realidade. São padrões que nos dizem a ser super-humanos, heróis, livres de emoção. ‘Homens’ racionais. E uma hora, tudo o que pensamos que controlamos, implode e/ou explode, porque foi empurrado para debaixo do tapete, foi negado, negligenciado. O cenário mundial não está sob nosso controle, a vida não é um movimento certo e previsível.

A reação de negar é expressa em cegueira, reclamações, críticas, julgamentos de culpas e culpados, gerando estresse, cansaço e fadiga, impotência, noites mal dormidas, descontroles, arrependimentos e dores, físicas e psíquicas. Uma hora o corpo não aguenta, implode e explode.

Olhar para esse sentir não é fraqueza, é fortaleza. Somos seres racionais e emocionais.

Então, quando há um convite a olhar para o sentir, para a emoção, surpreendentemente experimentamos algo diferente. Podemos desenvolver gradativamente a inteligência emocional, por meio da aprendizagem contínua das competências socioemocionais.

Então, precisamos encarar o fato que não somos somente animais, somos humanos. E como humanos, não somente pensamos. Como humanos, pensamos e sentimos, percebemos este mundo e damos significados a tudo o que vemos e sentimos. E vamos criando uma teia complexa de relações, padrões, crenças e cultura.

Neste contexto atual, o convite é integrar mente e coração, de forma a criar autonomia para expressar nossas vontades com liberdade e responsabilidade, a partir da autoconsciência e do equilíbrio emocional, para sermos protagonistas neste cenário de mudanças.

Se queremos ser protagonistas neste tempo de complexidade, o primeiro passo é desenvolver algumas habilidades que não aprendemos nos tempos de escola, como:

  1. Flexibilidade e adaptabilidade: para aprender o novo, desaprender o que não faz mais sentido, e reaprender.
  2. Autonomia de vontade: poder de decisão, compreendendo a própria vontade, interesses e necessidades;
  3. Liberdade e responsabilidade: o ser, que é livre, é consciente das consequências de seus atos e se responsabiliza. Liberdade não vem sem responsabilidade;
  4. Inteligência emocional: para lidar com equilíbrio diante das circunstâncias adversas e dos conflitos interpessoais, com resiliência e posicionamento assertivo;
  5. Ação: não adianta ter boas intenções, é preciso agir no sentido de dar o melhor que é possível, aprendendo com os erros e mantendo a consistência dos passos.

Não há respostas certas para estes tempos incertos. Talvez haja respostas possíveis para as perguntas certas. Tenhamos compromisso em permanecer tentando achar as respostas simples para as perguntas mais difíceis, a partir do desenvolvimento de nossas capacidades humanas: pensar e sentir.

A resistência para as mudanças vem de uma guerra que não é externa, mas interna. O homem contra ele mesmo, contra seus instintos, sombras, defeitos, inércia, preguiça. Precisamos querer autenticamente mudar para evoluir, com consistência, coragem, resiliência e constância. Assim, canalizamos a vontade de crescer, mantendo foco, encontrando aliados que queiram evoluir conosco, criando hábitos, reinventando nossa realidade.

Do lado de fora, as transformações acontecem independente de nosso querer. Do lado de dentro, prevalece o poder da decisão e do autorreconhecimento dos recursos internos para lidar com essas mudanças. Temos as capacidades biológicas para nos adaptarmos, desenvolvermos competências e fazermos o melhor para o enfrentamento necessário.

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Betina Costa
Mestranda em Direito com ênfase em Resolução de Conflitos, pela Ambra University. Pós-graduanda em Psicologia Positiva pela PUC/RS. Advogada consensual. Diretora Regional no Piauí do escritório Bayma & Fernandes. Presidente da Comissão de Justiça Restaurativa e Direito Sistêmico da OAB/PI, na atual gestão 2019/2021.