Advocacia é a profissão mais estressante que existe, diz novo estudo do Washington Post

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De acordo com estudo feito pelo jornal Washington Post* nos EUA em janeiro de 2023, advogar é a profissão mais estressante que existe.

Conforme pesquisa realizada pela American Bar Association** em 2016 sobre saúde mental da advocacia, foi constatado que 28% dos advogados têm depressão, 23% têm sintomas de estresse, 21% fazem uso problemático de álcool e 19% possuem ansiedade.

No Brasil, a realidade não é diferente. Um levantamento feito pelo sistema Smartlab, do Ministério do Trabalho***, mostra que 30% dos afastamentos de advogados das suas atividades laborais entre 2012 a 2018 se deram por transtornos mentais. 

Continue a leitura e saiba como superar estes desafios.

O sofrimento permeia o dia a dia do advogado

De acordo com a Cartilha da Saúde Mental da Advocacia de 2019, elaborada pelo Conselho Federal da OAB, “inerente à profissão do Advogado, o sofrimento alheio é o que permeia seu dia a dia, o que faz com que a busca dos ideais de justiça, humanidade, cidadania, da preservação de direitos no justo e no ético, lhe ofereça muitas recompensas, mas também um apropriar do sentimento das dores do outro, do futuro, dos ideais. É da profissão, certamente, mas que pode lhe ocasionar transtornos e frustrações que não raro, desencadeiam doenças das mais variadas”.

Alguns desses transtornos mentais são ansiedade generalizada, síndrome do pânico, depressão e burnout. Este, inclusive, foi reconhecido pela Organização Mundial de Saúde – OMS como fenômeno ocupacional, sendo incluído na Classificação Internacional de Doenças – CID 11 em 2022.

Nesse sentido, o advogado precisa ter um cuidado especial com sua saúde mental, na medida em que a prática da nossa profissão pode ser favorável ao desenvolvimento de transtornos mentais de origem ocupacional.

Como identificar que algo não vai bem

Identificar transtornos mentais pode ser um desafio, pois os sintomas variam de pessoa para pessoa e muitas vezes podem ser confundidos com outras condições médicas ou problemas de vida.

No entanto, existem alguns sinais comuns que podem indicar a presença de um transtorno mental e algumas perguntas podem servir como ponto de partida:

– Você assume mais demandas do que consegue dar conta?

– Você tem dificuldade em dizer não?

– Você tem utilizado comida, álcool, cigarro ou outras substâncias para aplacar suas preocupações?

– Seu corpo tem dado sintomas de que algo vai mal (dores de cabeça frequentes, insônia, perda ou aumento de apetite, irritabilidade, perda de memória, etc.)?

Se você respondeu sim para uma ou mais perguntas, pode ser sinal de que sua saúde mental não vai bem. Assim, o autoconhecimento é fundamental na identificação de um possível transtorno.

Como enfrentar esses desafios na prática

1) Atendimento profissional: nenhuma dica substitui orientação especializada. Portanto, deixe de lado qualquer preconceito e busque auxílio de um profissional, a exemplo de um psiquiatra ou um psicólogo. Hoje existem diversas linhas de atuação e certamente você se identificará com uma delas.

2) Estilo de vida saudável: prezar por um estilo de vida que inclua boa alimentação, sono de qualidade e atividade física regular é essencial para a saúde mental, pois corpo e mente estão sempre interligados.

3) Aprender a impor limites: é fundamental, em uma relação cliente-advogado saudável, aprender a impor limites, como estipular horários de atendimento, executar suas atividades apenas dentro do que está previsto em contrato, cobrar adequadamente pelo seu trabalho, dizer não quando necessário e modular as expectativas e o senso de urgência trazidos pelo cliente.

4) Saber priorizar: muitos advogados trabalham sozinhos, como autônomos ou profissionais liberais, e ainda não podem se dar ao luxo de delegar funções para terceiros. No entanto, é essencial ter consciência de que é impossível dar conta de tudo ao mesmo tempo e que é necessário estabelecer ordens de prioridade. Por exemplo: entre responder rápido uma mensagem de WhatsApp e cumprir um prazo fatal, deve-se priorizar o prazo.

Por fim, é necessário lembrar que o advogado é essencial para a administração da Justiça. Porém, para que possamos dar o nosso melhor nas demandas que atuamos, precisamos primeiro cuidar bem de nós mesmos.

Aqui, vale a máxima dos comissários de bordo: “em caso de despressurização, coloque primeiro a máscara em você e só depois auxilie quem está ao seu lado”.

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*  https://www.washingtonpost.com/business/2023/01/06/happiest-jobs-on-earth/

** https://journals.lww.com/journaladdictionmedicine/Fulltext/2016/02000/The_Prevalence_of_Substance_Use_and_Other_Mental.8.aspx

*** https://valor.globo.com/legislacao/noticia/2019/10/28/transtorno-mental-e-principal-causa-de-afastamento-do-trabalho.ghtml

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Amanda Gomes
Advogada, Professora e Palestrante. Especialista em Direito de Família e Sucessões. Mestranda em Direito na Ambra University (EUA), com foco em Resolução de Conflitos. Atualmente, exerce os cargos de Presidente da Comissão de Família e Tecnologia do Instituto Brasileiro de Direito de Família – Seção Ceará e de 2ª Vice-Presidente da Comissão de Direito de Família da OAB/CE.