A miopia do advogado em início de carreira

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É consenso que o início de carreira na advocacia não é fácil. Escolha da área de atuação, mercado saturado e baixa remuneração por parte dos escritórios de advocacia são apenas algumas das dificuldades relatadas pela maioria dos jovens advogados.

Ocorre que essas questões são apenas a ponta do iceberg e revelam um problema muito mais profundo: a miopia do advogado em início de carreira. Sim, a dificuldade em enxergar além.

Continue a leitura e descubra como superar estes desafios!

Escolha da área de atuação

Um erro comum do advogado em início de carreira é atuar como “clínico geral”. Dentro do mercado hiperespecializado que se apresenta hoje, a atuação como generalista pode desfalcar a autoridade do profissional perante o mercado, sendo difícil desconstruir esta imagem posteriormente.

É importante, desde o início, posicionar-se como especialista em uma área ou em áreas correlatas, por exemplo: Direito de Família e Direito das Sucessões, Direito do Trabalho e Direito Previdenciário, Direito Tributário e Direito Empresarial, etc. E, para isto, não é obrigatório cursar uma especialização. Na realidade, o cliente final pouco se importa com títulos acadêmicos, estando muito mais preocupado com a resolução do seu problema.

Ao contrário do que muitos pensam, a escolha da área de atuação não implica em “perder clientes”. É recomendável fazer parcerias com advogados especialistas em outras áreas, sendo possível receber comissões entre 10% a 50% do valor de cada contrato fechado tão somente pela indicação de outro profissional. Ou, caso deseje, também é possível continuar representando clientes e causas de outras searas, desde que não seja seu foco de prospecção.

Mercado saturado

De acordo com dados do Conselho Federal da OAB do ano de 2022, o Brasil é o país com maior proporção de advogados por habitante no mundo, sendo, ao todo, 1,3 milhão de advogados inscritos regularmente nos quadros da Ordem em um contingente populacional de 212,7 milhões de pessoas, segundo dados do IBGE. Portanto, um advogado para cada 164 brasileiros.

O cenário parece assustador, mas não precisa ser motivo de real preocupação para quem deseja, de fato, dedicar-se à advocacia: a maioria dos profissionais com OAB ativa está, na verdade, estudando para concursos públicos. Conforme dados divulgados pela Associação Nacional de Proteção e Apoio aos Concursos (ANPAC) em 2018, o crescimento do número de concurseiros é de 40% a cada ano.

Assim, a famigerada saturação é ilusória, pois, na prática, os números não refletem os profissionais que, de fato, estão disponíveis e qualificados. Por isso, o advogado em início de carreira não precisa – nem deve – se preocupar com a concorrência, mas, sim, capacitar-se para prospectar clientes e resolver os problemas propostos dentro de sua área de atuação.

Baixa remuneração por parte dos escritórios de advocacia

Conforme pesquisa realizada pelo site Salario.com.br junto a dados oficiais do Governo Federal, um advogado empregado ou associado ganha, em média, R$ 4.665,74 para uma jornada de trabalho de 41 horas semanais.

A problemática do piso salarial da advocacia é amplamente discutida nas seccionais da OAB, na medida em que não há uma regulamentação a nível nacional, devendo ser definida e fiscalizada a nível estadual.

Em muitos estados, essa remuneração, na prática, não passa de R$ 1.500,00 a R$ 2.000 para os advogados da categoria júnior, especialmente em pequenos escritórios de advocacia.

A vivência como advogado empregado ou associado pode ser válida a depender da oportunidade e dos objetivos do profissional. Porém, o advogado em início de carreira não precisa se contentar com valores ínfimos e cargas-horárias extenuantes de trabalho.

Por conta própria, aplicando técnicas básicas de prospecção em seu círculo social, como amigos e família, o advogado iniciante pode, em um único contrato, receber valor equivalente ou muito maior a um mês de serviços prestados para banca de terceiros.

Percebe-se que muitas das dificuldades enfrentadas pelo advogado em início de carreira se dão em razão da mentalidade de empregado.

Não há nada de errado nisto. Porém, é necessário compreender que, neste formato, toda a suposta segurança fica concentrada nas mãos de uma única fonte, enquanto o mesmo profissional – ainda que iniciante – tem o potencial de, sozinho ou por intermédio de parcerias, diluir seus riscos em diversas fontes, quais sejam, seus clientes.

A advocacia é um business. O seu business. Por isso, é importante colocar lentes para enxergar o mundo além do que se vê um palmo a frente, de modo a viabilizar que a escolha do seu modelo de trabalho seja feita de forma consciente.

Leia também sobre como fazer a precificação dos serviços na advocacia.

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Amanda Gomes
Advogada, Professora e Palestrante. Especialista em Direito de Família e Sucessões. Mestranda em Direito na Ambra University (EUA), com foco em Resolução de Conflitos. Atualmente, exerce os cargos de Presidente da Comissão de Família e Tecnologia do Instituto Brasileiro de Direito de Família – Seção Ceará e de 2ª Vice-Presidente da Comissão de Direito de Família da OAB/CE.