Israel x Hamas: o impacto na organização

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É notícia no mundo a guerra entre Israel e Hamas, principalmente, no que pertine à violência desenfreada e o número de mortes que vem sendo apurado diariamente. A disputa territorial, que não é recente, desperta uma discussão interessante sobre o impacto que o conflito tem no Brasil e o necessário gerenciamento de risco do negócio.

Gerenciamento de riscos

A partir do momento em que se cria uma organização, diversos fatores, sejam eles internos ou externos, são capazes de influenciar no desempenho do negócio. Em se tratando de fatores internos, o gerenciamento de risco acaba se tornando mais facilitado, posto que a gestão encontra-se com maior controle e poder de interferência na situação, podendo determinar estratégias para mitigar os riscos negativos.

Lado outro, quando a organização se depara com fatores externos capazes de influenciar no desempenho do negócio, é preciso que a gestão intensifique sua análise e elabore um estudo estratégico.

Infelizmente, apesar da guerra entre Israel e Hamas acontecer do lado oposto ao nosso, seu reflexo é tanto direto quanto indireto no Brasil. Neste sentido, técnicos do Ministério da Fazenda avaliam que a guerra, se persistente, poderá refletir no petróleo, o qual sofre com oscilações temporárias de preço e, também, no preço do dólar, conforme afirma, também, o Banco Central, o que implicaria em reiniciar a inflação de forma rápida.

Outro impacto acontece no agro brasileiro, que exporta milhões de dólares a Israel, conforme destaca a revista Exame:

No ano passado, o agro brasileiro exportou US$ 727,43 milhões para Israel, com destaque para carnes (33,9% do total), soja (27%), cereais, farinhas e preparações (26,2%), produtos florestais (4%), café (3,5%) e sucos (2,3%). Já para a Palestina, os embarques foram bem mais modestos: US$ 29,9 milhões, especialmente carnes, cacau e outros itens alimentícios.

Por outro lado, o Brasil importa fertilizantes, defensivos e sementes de Israel. As compras totalizaram US$ 1,45 bilhão em 2022, com o país respondendo por 9% do cloreto de potássio adquirido e 11% do fosfato diamônico (DAP), aponta o relatório da consultoria.

A depender da duração da guerra, bem como dos desdobramentos daí decorrentes, poderá haver alteração nos custos de insumos e matérias-primas para a produção agrícola.

Os impactos aqui mencionados dizem respeito, majoritariamente, ao aumento dos custos, oscilações de preços, instabilidade da moeda e juros, o que, sem sombra de dúvidas, é preocupante, embora não seja algo irreversível.

Mas, e quando é o trabalhador quem poderá sofrer impactos oriundos da guerra? Como gerenciar este risco e quais responsabilidades incumbem ao empregador?

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Trabalhadores afetados

Naturalmente, uma empresa que possui funcionários no exterior está obrigado a observar regras, expressamente previstas, como aquelas existentes na Lei 7.064/82, bem como a Consolidação das Leis do Trabalho, caso esta seja mais favorável que a legislação trabalhista local.

No caso de Israel, é cediço que o país possui histórico de confrontos, motivo pelo qual tal situação deve ser primordialmente analisada pela gestão de risco antes de expatriar qualquer funcionário para aquela região. Obviamente, o cenário atual não é favorável para qualquer expatriação, principalmente, quando não se evidencia indícios do término da guerra.

Inobstante, “Cerca de 14 mil brasileiros vivem em Israel e 6 mil na Palestina, segundo estimativas do Itamaraty – a maioria fora da área de conflito” (BBC, 2023). Apesar da maioria dos brasileiros serem turistas, existem trabalhadores brasileiros que foram contratados para prestar serviços em Israel ou que foram para lá transferidos e que se encontram em meio aos bombardeios, vivenciando situações de medo constante com riscos à própria vida.

Além do empenho do governo brasileiro para a repatriação dos brasileiros através do envio de aviões da FAB, é indene que o empregador pode e deve auxiliar seu funcionário neste momento, colocando-se à disposição para o que se fizer necessário, seja através de recursos financeiros para sua segurança, seja através de apoio psicológico e contato com a família.

O momento resvala o binômio empregado-empregador e transcende ao bom senso humanitário e solidário, empenhando-se a organização na preservação da integridade, saúde e vida de seu funcionário. Neste sentido, cumpre destacar os dizeres do CEO do Google:

“O Google tem dois escritórios e mais de 2.000 funcionários em Israel, e é inimaginável o que eles estão vivenciando neste momento. Nossa prioridade é garantir que todos os Googlers da região sejam monitorados e estejam seguros. Além de nossos funcionários locais, identificamos mais pessoas que estavam viajando para lá. A GSRS continua com as verificações de segurança neste momento – localizando cada funcionário e garantindo que eles tenham as melhores informações de segurança que podemos oferecer de nossos especialistas. Passamos o dia de hoje nos conectando com a maioria deles, mas levará algum tempo para chegar a todos”, acrescentou.

Além de garantir a segurança de seus funcionários, o Google destinou cerca de US$ 8 milhões como ajuda humanitária, destacando-se US$ 3 milhões para apoio psicológico e emocional aos familiares, vítimas e crianças da região e mais US$ 3 milhões para a organização Save the Children. Ainda, destinou US$ 2 milhões para organizações sem fins lucrativos que oferecem ajuda aos civis afetados pela guerra.

Não há dúvidas de que o Google foi deveras afetado pela guerra, principalmente, no que diz respeito aos seus funcionários e produção, contudo, a ação realizada demonstra o quão positiva é a sua cultura organizacional, atraindo, por sua vez, a atenção de clientes e investidores, oportunizando, assim, a recuperação do dinheiro investido.

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Referências

TAIAR, Estevão. Impacto da guerra em Israel sobre Brasil deve ser limitado neste momento, avalia Fazenda. Valor. Outubro/2023. Disponível em: https://valorinveste.globo.com/mercados/brasil-e-politica/noticia/2023/10/09/impacto-da-guerra-em-israel-sobre-brasil-deve-ser-limitado-neste-momento-aponta-fazenda.ghtml Acesso em 25/10/2023.

BECKER, Leandro. Entenda os impactos e riscos da guerra entre Israel e Hamas para o agro brasileiro. Exame. Outubro/2023. Disponível em:  https://exame.com/agro/entenda-os-impactos-e-riscos-da-guerra-entre-israel-e-hamas-para-o-agro-brasileiro/ Acesso em 25/10/2023.

BBC. Brasileiros em Israel: Itamaraty recebe 1,7 mil pedidos de repatriação; entenda como será o resgate. Outubro/2023. Disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/articles/c9wlrj2dgv2o Acesso em 25/10/2023.

ILO. National Labour Law Profile: The State of Israel. Disponível em: https://www.ilo.org/ifpdial/information-resources/national-labour-law-profiles/WCMS_158902/lang–en/index.htm Acesso em 25/10/2023.

SCHENDES, William. Google doa dinheiro para vítimas dos confrontos em Israel e Gaza. Outubro/2023. Disponível em: https://olhardigital.com.br/2023/10/17/pro/google-doa-dinheiro-para-vitimas-dos-confrontos-em-israel-e-gaza/ Acesso em 25/10/2023.

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Júlia Tiburcio
Mestranda em Direito com ênfase em Compliance na Ambra University.