Manda quem pode, obedece quem tem juízo?

práticas de cultura organizacional
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O ditado “manda quem pode, obedece quem tem juízo” há muito conhecido e replicado, normalmente é utilizado quando um funcionário não se sente confortável para questionar o que “tem” que ser feito no trabalho. É uma frase muito comum em empresas familiares, em que, muitas vezes, a meritocracia é substituída pelo nepotismo.

À primeira vista parece certo que se sou funcionário, devo fazer o que me mandam. Também, na perspectiva do chefe, é confortável ter alguém que obedeça sem questionar. Mas no que isso interfere, ou melhor, reflete na cultura organizacional?

A resposta é: esse comportamento É a cultura organizacional!

Quando falamos de cultura organizacional, deixamos os julgamentos de lado, não há como dizer se uma cultura é certa ou errada, a menos que seja pautada em ações ilegais. Mas no geral, podemos dizer, apenas, que há melhores práticas em termos de cultura organizacional.

Mas para que possamos entender o porquê do “manda quem pode…” não estar entre as melhores práticas, vou te mostrar 3 prejuízos que ele causa:

1. Falta de motivação na equipe

Todos os funcionários devem ter plena ciência de qual a colaboração que seu trabalho proporciona. Ele precisa entender o motivo pelo qual levanta todos os dias de sua cama confortável, encara o trânsito ou o transporte público e passa, no mínimo, as próximas 8 horas do seu dia se dedicando à empresa. Isso é mais importante ainda, quando falamos em trabalhos em série, em que o funcionário só vê uma parte do que é feito. Ex: produção de partes de um produto, ou processo administrativo de lançamento de dados.

2. Falta de confiança na empresa e nos superiores e alta rotatividade de funcionários

Se o funcionário não sabe o porquê de estar fazendo o que está fazendo, ele se sente deixado de lado, sentimento que vai de encontro com um de nossos instintos mais primitivos, o de pertencimento, que nos permitiu sobreviver em grupo. É extremamente difícil para qualquer ser-humano permanecer onde não se sente pertencente.

3. Piora na qualidade do trabalho

Suponhamos que uma cozinheira faça almoço todos os dias. Em um dia desses, seu superior lhe informa que uma pessoa muito importante virá almoçar. Na sua opinião, ela capricha ou não no almoço? É claro que sim! Quando as informações são regulares, os funcionários podem se organizar para trabalhar da melhor forma e entregar o que é necessário, aumentando a qualidade média do trabalho.

Entendida esta parte e considerada a pluralidade de trabalhos e funções, de um lado e a privacidade/confidencialidade de informações sobre a gestão, de outro, quais informações sobre meus negócios eu devo passar para os meus funcionários?

Primeiro, as informações devem atender ao oposto dos problemas acima mencionados, passando por um filtro:

Essa informação:

  1.  aumentará a motivação da equipe?
  2. aumentará a confiança na empresa?
  3. gerará sentimento de pertencimento e melhora na qualidade do trabalho?

Se a resposta para qualquer um dos itens for SIM, então esta informação deve ser passada.

Lembrando que, não faz parte das melhores práticas que alguns poucos funcionários tenham informações privilegiadas, sem que, pela natureza de seus cargos ou funções, estejam aptos a portarem tais informações, pois, isso gera fofocas e rivalidade, coisas que destroem qualquer bom clima organizacional.

Com relação às informações confidenciais, a empresa pode se proteger inserindo no contrato de trabalho do funcionário, o termo de confidencialidade.

Por fim, tenho a obrigação de dizer que não adianta chamar a equipe de família se no dia-a-dia quem governa é o “manda quem pode, obedece quem tem juízo”.

Confira também a importância da governança corporativa em empresa familiar.

Mestrado em Administração
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Karen Sturmer
Advogada, Mestre em Ciências Jurídicas pela Ambra University. E-mail: [email protected]