Você está governando errado – empresas familiares não profissionalizadas

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É muito comum ouvir que empresas familiares devem permanecer na família e que crescer vai causar conflitos familiares. Esse pensamento é bastante difundido, entretanto, a verdade recusada é que: A FAMÍLIA SÓ IRÁ BRIGAR SE NÃO HOUVER CRESCIMENTO ORGANIZADO.

Além disso, aquele ditado que as abóboras se ajeitam no andar da carroça, não se aplica aos empreendimentos sérios, uma vez que o desenvolvimento adequado da empresa, depende da previsão e provisão de gastos, alinhamento de interesses e profissionalização, não só da gestão, mas de toda a família envolvida no negócio.

À medida que um negócio evolui é inevitável que providências sejam tomadas com o intuito de prevenir riscos e conflitos, solidificar o negócio e promover sua perpetuidade (longa duração).

De acordo com o entendimento de Agostinho Dalla Valle, “a profissionalização deve ser implementada em qualquer tipo de empresa, também nas de origem familiar, que no Brasil constituem a grande maioria, cerca 75%.” (VALLE, 2021, p. 394).

Outro engano é acreditar que profissionalizar significa contratar pessoas de fora da família, mas na verdade, significa preparar as pessoas da família para serem bons profissionais.

Algumas vezes vejo nos atendimentos donos de empresa idosos que ainda trabalham duro em suas empresas, ao passo que seus filhos e netos tem suas próprias aspirações, ou pior, alguns estão desempregados, mas não houve na história dessa empresa a preocupação em integrar os demais membros da família de forma adequada às rotinas ou funcionamento desta empresa.

O questionamento levantado sempre é: quem irá cuidar e manter tudo que foi construído no decorrer de tantos anos de trabalho?

Outro erro não menos grave é alocar familiares em cargos para os quais não possuem nenhuma preparação ou capacitação. Ou ainda, filhos que atuaram em setores mais operativos, apenas dentro da própria empresa, sem conhecer outras empresas, o mercado, criando o que é conhecido como efeito casulo, com foco normalmente voltado para o market share (visão estrita de mercado), com visão restrita de resultados (DALLA VALLE, 2021, p. 395).

Assim, apresentamos algumas formas simples e eficazes de resolver esses problemas:

  1. Requisitos de capacitação: a empresa deve estabelecer requisitos de carreira para os familiares interessados em ocupar determinados cargos, especialmente os de maior poder (diretorias, conselho de administração etc). Entre esses requisitos podem estar: curso superior/especialização na área de atuação,  tempo de trabalho mínimo em determinada área, intercâmbio de filhos entre empresas (explicado a seguir), métricas de rendimento, entre outros.
  2. Intercâmbio de filhos entre empresas: muitos filhos de empresários, candidatos a sucessores, realizam intercâmbio de trabalho com outros filhos na mesma situação. Ex. Meu filho vai trabalhar na sua empresa e seu filho vem trabalhar na minha empresa. Toda essa operação se realiza de forma pensada e calculada, para proporcionar a estes filhos conhecimento em outros cargos e mercados, aumentando sua visão de mundo e dos negócios.
  3. Promoção da interação dos jovens: muito do desinteresse dos jovens nos negócios da família se deve ao fato de não terem suas sugestões ouvidas. Desta forma, promover a interação deles desde bem cedo, faz com que despertem interesse nos negócios, sentindo-se parte importante dele. Isso pode ser feito com a instituição de estágios rotativos, permanecendo um certo tempo em cada setor.

“Em vez de apenas transformar uma empresa familiar, devemos pensar em criar famílias empresárias com visão empreendedora.” (autor desconhecido)

Referências

Valle, Agostinho Dalla. 2021. Benchmarking reverso – análise das piores práticas de gestão empresarial. Porto Alegre: Sulina.

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Karen Sturmer
Advogada, Mestre em Ciências Jurídicas pela Ambra University. E-mail: [email protected]