Criação de Perfis, Inteligência Artificial (IA) e a ISO 42001: Um Olhar Jurídico

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A inteligência artificial (IA) tem transformado rapidamente diversos setores, oferecendo novas oportunidades e desafios. Entre as muitas aplicações da IA, a criação de perfis (profiling) é uma das mais controversas, especialmente em termos de implicações jurídicas e éticas. Nesse contexto, a ISO 42001/2023, uma norma internacional para a gestão de sistemas de IA, fornece diretrizes essenciais para garantir que a criação de perfis seja conduzida de maneira ética e em conformidade com as legislações vigentes e aplicáveis.

O Que é a Criação de Perfis?

A criação de perfis é o processo de usar dados para construir um perfil detalhado de um indivíduo ou grupo, podendo incluir a coleta e análise de dados comportamentais, históricos e de outras fontes para prever comportamentos futuros, preferências e decisões. Na era da IA, o profiling tornou-se extremamente sofisticado, usando algoritmos de machine learning e big data para gerar insights precisos e personalizados.

Aplicações do Profiling

A criação de perfis pode ser aplicada de algumas formas, quais sejam:

  • Marketing Personalizado: Segmentação de consumidores com base em seus comportamentos e preferências para oferecer publicidade e ofertas personalizadas;
  • Recrutamento e Seleção: Avaliação de candidatos a empregos com base em perfis gerados a partir de suas experiências, habilidades e comportamentos online;
  • Segurança e Prevenção de Fraudes: Identificação de atividades suspeitas e prevenção de fraudes financeiras através do monitoramento de padrões de comportamento.

E onde residem as implicações jurídicas do Profiling?

A criação de perfis levanta várias questões jurídicas e éticas, como por exemplo:

  • O uso de dados pessoais para criar perfis pode violar a privacidade dos indivíduos se não for feito de maneira transparente e com consentimento adequado;
  • Algoritmos de IA podem perpetuar ou amplificar vieses existentes, levando à discriminação com base em raça, gênero, idade ou outros fatores;
  • A falta de transparência nos processos de profiling pode dificultar a responsabilização e a compreensão de como as decisões automatizadas são tomadas.

Estrutura para Gestão de IA

A ISO 42001/2023 é uma norma que estabelece requisitos para a implementação e gestão eficaz de sistemas de IA abrangendo aspectos como conformidade regulatória, ética, gestão de riscos e qualidade. Sendo assim, a norma é particularmente relevante para abordar as questões jurídicas e éticas associadas à criação de perfis.

Princípios da ISO 42001/2023 relacionados ao Profiling

Conformidade: Assegura que os sistemas de IA estejam em conformidade com leis e regulamentações aplicáveis.

  • Aplicação ao Profiling: Garante que a criação de perfis siga as leis de proteção de dados, como o GDPR (General Data Protection Regulation) na Europa, que exige consentimento explícito e transparente para o uso de dados pessoais, por exemplo.
  • Ética e Transparência: Promove o uso ético da IA e a transparência nos processos automatizados.
  • Aplicação ao Profiling: Requer que as organizações sejam transparentes sobre como os perfis são criados e utilizados, e que evitem práticas discriminatórias.
  • Gestão de Riscos: Identifica e mitiga riscos associados ao uso de IA.
  • Aplicação ao Profiling: Ajuda a identificar e mitigar riscos de vieses e discriminação nos algoritmos de profiling, assegurando que os sistemas sejam justos e equitativos.
  • Qualidade e Desempenho: Garante que os sistemas de IA tenham alta qualidade e desempenho consistente.
  • Aplicação ao Profiling: Assegura que os algoritmos de profiling sejam precisos e baseados em dados de qualidade, minimizando erros e falsos positivos.

Aspectos Jurídicos da Implementação da ISO 42001/2023 no Profiling

Fato é, que a implementação da ISO 42001/2023 pode ajudar as empresas a cumprirem o que estabelece as legislações de privacidade, como por exemplo, a Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais (LGPD) – Lei nº 13.709/2018 e o GDPR (General Data Protection Regulation). A referida norma tem integração com as ISOs 27001 e 27701, ademais, incentiva a adoção de práticas de minimização de dados, coletando apenas o necessário para os fins específicos e armazenando-os de forma segura.

A ISO 42001/2023 promove a identificação e mitigação de vieses nos algoritmos de IA, o que é capital para evitar discriminação inadvertida em processos de profiling. A norma estabelece que as organizações realizem auditorias regulares e testes de viés em seus algoritmos, assegurando que as decisões automatizadas sejam justas e equitativas. Tal ação, não só melhora a conformidade legal, mas também aumenta a confiança dos usuários nos sistemas de IA.

É válido dizer que, a transparência é um princípio central da ISO 42001/2023, eis que a norma determina que as organizações sejam claras sobre como os perfis são criados e utilizados, incluindo a lógica subjacente aos algoritmos de IA. Essa ação essencial para garantir o accountability, permitindo que os indivíduos compreendam como suas informações são usadas e questionem decisões automatizadas quando necessário.

Benefícios da Implementação Conjunta da ISO 42001/2023 no Profiling

Ao seguir as diretrizes da ISO 42001/2023, as organizações podem assegurar que suas práticas de profiling estejam em conformidade com leis e regulamentações internacionais, reduzindo o risco de multas e sanções. A adoção da norma demonstra um compromisso com práticas éticas e responsáveis de IA, o que pode melhorar a reputação da empresa e fortalecer a relação de confiança com consumidores e parceiros de negócios.

Ainda, a implementação de processos padronizados e auditáveis para a criação de perfis pode aumentar a eficiência operacional, reduzindo erros e melhorando a qualidade das decisões automatizadas.

Logo, fica claro que a criação de perfis usando IA apresenta muitos desafios e oportunidades significativas. A ISO 42001/2023 fornece uma estrutura robusta para a gestão ética, segura e eficaz desses processos, abordando as principais preocupações jurídicas associadas ao profiling.

Ao implementar a mencionada norma, as organizações podem mitigar riscos, assegurar conformidade e promover a transparência e a equidade em seus sistemas de IA. Em uma sociedade claramente informacional, a adoção de normas como a ISO 42001/2023 é imperiosa para garantir que a inteligência artificial seja utilizada de maneira responsável, ética e benéfica para todos.

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Mariana Gonçalves
Advogada especialista em privacidade e proteção de dados pessoais, CIPM/IAPP, CDPO/BR, DPO e Information Security Officer pela EXIN, AI Governance Manager. Auditora Líder nas ISOs 27001, 27701 e 42001. Coautora dos livros “LGPD e Cartórios” e “Mulheres na Tecnologia”, e mestranda em Science in Legal Studies.