Felicidade organizacional: um tema para o Chief Happiness Officer

Felicidade organizacional um tema para o Chief Happiness Officer
Escutar o texto
Voiced by Amazon Polly

Não é atual a discussão acerca do impacto que o ambiente de trabalho pode proporcionar na vida e saúde do trabalhador, principalmente, no que pertine à saúde mental. A Organização Mundial da Saúde reconheceu a síndrome de burnout como doença do trabalho, passível de afastamento pelo INSS.

O tema merece tamanha importância quando há índices alarmantes sobre afastamento por doença mental no Brasil. Somente no ano de 2022, aproximadamente, 210 mil pessoas foram afastadas do trabalho em razão de doença mental, segundo o INSS.

Vale frisar que a doença mental é uma doença de caráter subjetivo e, portanto, não pode ser generalizada. Nem todo indivíduo reage da mesma forma a determinada situação e, portanto, os resultados, certamente, serão divergentes.

Mas, como mitigar os riscos, sob o viés do compliance, se não estamos falando de um fator direto?

Felicidade organizacional

Vivemos em um mundo onde a pressão e a competitividade excessiva são dominantes e é em razão disso que promover um ambiente de trabalho adequado e saudável e o bem-estar dos funcionários auxiliam na prevenção de acidentes de trabalho de cunho mental.

Alguns autores entendem que o bem-estar no trabalho possui referência direta com a forma com que o funcionário pensa a respeito do trabalho, além de como ele se sente no trabalho. Ser feliz corporativamente significa fornecer um serviço superior, ou seja, permite que o funcionário maximize seu desempenho, não se desinteressando deste propósito quando atua, seja individual, seja em grupo. (RIBEIRO et al, 2022)

Neste sentido, é primordial que o funcionário se identifique com a cultura organizacional da empresa, principalmente, com os objetivos e valores, sendo relevante destacar o seguinte (RIBEIRO et al, 2022):

O compromisso organizacional é o comprometimento psicológico que ocorre quando os colaboradores se identificam com os objetivos e valores da organização e a ela se ligam afetivamente (Fisher,  2010). Meyer e Allen (1991,  1977) propuseram

que o compromisso organizacional é um estado psicológico que carateriza a relação do colaborador com a organização, com implicações na sua decisão de nela permanecer ou abandonar, defendendo três naturezas ou componentes do conceito:  (i) afetiva, representando a ligação emocional à  organização (o colaborador permanece porque o deseja); (ii) calculada ou calculativa, quando é suscitado por incentivos financeiros ou falta de alternativas viáveis, e não pela valorização da organização (permanece porque precisa); e (iii) normativa, quando envolve sentir uma obrigação moral (permanece porque não é correto abandonar a empresa)

Seria utopia cogitar a possibilidade de atingimento do nível perfeito de um ambiente interno de trabalho, mas existem medidas simples que podem ser adotadas que promoverão felicidade e bem-estar.

Estratégias para prevenção de riscos relacionados às doenças mentais

Antes de adentrarmos ao cerne das estratégias a serem adotadas, é importante destacar que existe um profissional responsável pela promoção da felicidade organizacional, é o Chief Happiness Officer – CHO.

O CHO “é o grande embaixador e influenciador do tema da felicidade nas companhias. Ele é alguém que vai liderar o debate sobre saúde mental e bem-estar nesses ambientes” (FORBES, 2021).

Muitas empresas acham que promover festas de final de ano e fornecer brindes é suficiente para criar um ambiente de trabalho saudável, harmônico e feliz. Mas, não é só isso! Saúde mental não é sobre TER, é sobre SER. É ter empatia; é reconhecer o esforço; é não assediar; é ser positivo.

A primeira medida a ser adotada pelo CHO é se certificar que a alta administração trata a saúde mental como prioridade e que está disposta a investir em programas para mitigar o risco. Dito isto, deve o profissional promover uma pesquisa de satisfação interna, a fim de avaliar e priorizar estratégias.

São estratégias simples e efetivas: [i] incentivar o cuidado com a saúde física e mental, proporcionando gympass, palestras, campeonatos de esporte; [ii] promover um café da manhã aos funcionários; [iii] surpreender o funcionário com uma mensagem de agradecimento por todo o esforço (visa o reconhecimento); [iv] disseminar a cultura do não assédio, não bullying, não discriminação; [v] estreitar os laços entre gestores e subordinados com uma roda de conversas.

As situações acima, apesar de simples, mudam completamente a visão do funcionário sobre a empresa e contribui para tornar o ambiente de trabalho saudável. A disseminação de uma cultura positiva, mais leve e solidária, sem sombra de dúvidas, promove satisfação profissional e reduz acidentes de cunho mental, principalmente, porque o funcionário passa mais tempo do seu dia no trabalho do que em casa e, portanto, é indispensável que ele se sinta, ao menos, confortável.

Quando bem conduzida, os resultados podem ser bastante positivos para a empresa. Segundo pesquisa realizada pela Harvard Business Review “colaboradores felizes são 31% mais produtivos, 85% mais eficientes e 300% mais inovadores”. Já para a empresa, haverá possibilidade de ter “55% menos demissões e uma probabilidade 125% menor de casos de burnout”. (FORBES, 2021).

Investir em felicidade organizacional pode ser uma boa estratégia para aumentar a produtividade, diminuir o turnover e atrair clientes/investidores, bastando que a empresa esteja disposta a investir na saúde mental ocupacional.

Mestrado em Compliance

Referências

RIBEIRO, Ana Sofia Pereira et al. Felicidade Organizacional e Qualidade de Vida no Trabalho numa indústria joalheira. Research, Society and Development, v. 11, n. 4, 2022. Disponível em: https://rsdjournal.org/index.php/rsd/article/view/26965/24219 Acesso em 30/8/2023.

SARAIVA, Maria Laura. CHIEF HAPPINESS OFFICER: COMO A FELICIDADE CRIOU UMA NOVA PROFISSÃO. Com alta demanda durante a pandemia, cargo incorpora o bem-estar do colaborador no centro da estratégia de negócio das empresas. Forbes. Maio/2021. Disponível em: https://forbes.com.br/carreira/2021/05/chief-happiness-officer-como-a-felicidade-criou-uma-nova-profissao/ Acesso em 30/08/2023.

Previous articleTive um problema em decorrência de uma relação de consumo, mas não quero ingressar com uma ação. Posso fazer algo? 
Next articleUnião estável poliafetiva é admitida no Brasil?
Júlia Tiburcio
Mestranda em Direito com ênfase em Compliance na Ambra University.